terça-feira, 16 de setembro de 2008

A arte de ser DJ

Jornal A Cidade
Ribeirão Preto-SP
Segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Por Regis Martins



Quando Washington Santa Rosa foi tirar a sua carteira de trabalho há mais de dez anos em Sertãozinho, sua terra natal, sentiu-se frustrado. Ao lhe perguntarem a profissão, ele foi enfático: DJ. Os funcionários públicos acharam graça e logo emendaram:- DJ não é profissão. Hoje, aos 29 anos, Washington, ou melhor, DJ Jota, não vive da atividade que lhe dá mais prazer. Estuda Física na Universidade Federal de São Carlos e tem a consciência de que animar festas munido de picapes e um mixer sempre vai ser uma forma de hobbie em sua vida. - Ser DJ profissional exige uma dedicação que hoje não disponho e além disso, as coisas ficaram muito mercantilistas, acredita.Num período em que a música eletrônica reúne milhares de pessoas em festas por toda a região, Jota diz que o mercado foi tomado por “pára-quedistas” que banalizaram a atividade. - As pessoas não têm mais referência e ninguém mais se preocupa com a cultura do DJ. Perdeu o sentido, ressalta.


Underground

A afirmação de Jota mostra que o tema está longe de ser uma unanimidade. Não por acaso, o Senac promove até 19 de setembro, em 14 unidades paulistas, um ciclo de palestras com o tema “Profissão DJ”. Em Ribeirão Preto o evento vai ser realizado hoje e ministrado pelo DJ paulistano Jason Bralli.Um dos mais renomados DJs, remixers e produtores musicais, Jason discute carreira, mercado de trabalho e ética na profissão. Assuntos polêmicos, na visão de Jota, especialista em black music. - Eu tento fazer um som que leve algo positivo para as pessoas. Algo que tem um significado, o que não é muito comum hoje em dia, diz. Jota faz parte do coletivo de DJs Tutu, criado há seis anos em Ribeirão Preto e especializado na música eletrônica mais underground, bem diferente do estilo “psy-trance” que anima as festas “raves” da região. Um dos fundadores do Tutu é Rogério Brito que também não vive exclusivamente da profissão. Aos 42 anos, Rogério é operador de áudio de um colégio de Ribeirão. - O que a gente faz é algo alternativo porque temos um trabalho de pesquisa mais voltado ao groove e ao balanço, explica. O Tutu começou quase como uma brincadeira entre amigos que queriam fazer uma festa com um tipo de som diferente dos eventos “techno”. No início, os equipamentos não eram dos mais profissionais, mas o eventos atraiam mais público a cada edição. Atualmente, além dos integrantes da formação original, o grupo conta hoje com 15 “agregados” nas diversas festas que realizam por toda a cidade. Ninguém vive da profissão de DJ. - Mas conheço gente que vive exclusivamente disso. Pra isso tem que animar qualquer tipo de festa. Conheço DJs especializados em bufês infantis, revela Rogério. O coletivo Tutu reúne no seu repertório estilos como o samba rock, o house e até mesmo o jazz, com apresentações que incluem músicos tocando ao vivo.


Old School

Rogério e companhia fazem parte do que a turma do hip-hop chama de “old school” porque, além de apresentarem um tipo de som que privilegia o balanço e a melodia, utilizam um tipo de equipamento que alguns consideram “fora de moda”. Ou seja, as velhas picapes que tocam LPs. - Hoje muitos DJs levam apenas um laptop pra tocar nas festas. Eu trabalho muito com CD e com o “bolachão”. Sou um cara “old school”, mas com a cabeça aberta para o novo, comenta. Rogério afirma que é preciso estar atento às novas tecnologias e defende até mesmo os cursos que ensinam as técnicas de discotecagem. - Hoje os equipamentos têm muitos recursos e é importante explorar ao máximo estas novidades, acredita o DJ, que diz ainda que um kit mínimo que inclui duas picapes e um mixer “de qualidade” pode custar de mil a R$ 5 mil.


Rap

Outro especialista em “black music” é o DJ Yzak, que garante ser possível viver desta atividade em Ribeirão Preto. Sócio fundador do grupo de rap Consciência X Atual, Yzak também anima festas na cidade e região. - Toda casa em que me apresento com o grupo também realiza festas de “black music” e acaba me abrindo portas, conta. Mas Yzak também é empresário e comanda uma casa de shows no Boulevard, especializada na cultura hip-hop. - Tem muito mercado para o estilo no Brasil, mas não tão grande quanto a música eletrônica, resume o DJ, que também é adepto das velhas picapes e vinis, que utiliza juntamente com um moderno laptop. Apesar de jovem, com 31 anos, Yzak acha graça quando ouve falar em “cursos para DJ”. - Sou da época em que DJ aprendia na prática, porque se você não tem feeling, não adianta professor, conclui.

Nenhum comentário: